O sangue parou de escorrer assim que ela conseguiu encostar, com as pontas dos dedos, naquele tecido grosso e rude. Ela tocou no tecido, longe do Seu corpo, enquanto todos o esmagavam, por todos os lados. Naquela hora foi como se ele não tivesse sentido os esbarrões, empurrões e apertos de mais ninguém, apenas o toque dela, que nem foi tão profundo assim. Apenas um toque. Um dedilhar. Um carinho na ponta de sua roupa. Saiu virtude. Ah, saiu.
Vi o seguinte: ela não sentiu mais sangue nenhum descendo depois de ter acreditado, e ela mal pôde acreditar que parou de sangrar. Ela parou, sem expressão. Fixou seus olhos à frente, nele, que continuou andando por muito pouco tempo. Seus lábios se entreabriram e seu olhar tinha um brilho mais que especial. Bem mais. Ela sentiu um vento gelado tocar seu rosto, movimentando seus cabelos e sua roupa. Nesse momento, ele se virou.
"Quem me tocou?", ele parou e todos pararam com ele, naturalmente. Vários o tocaram nos últimos minutos. Será que dava mesmo para distinguir? "Alguém tocou, que eu sei. Quem foi?"
Ela respirou fundo e apertou os lábios, abriu os braços, fazendo a multidão abrir um espaço para que ele pudesse vê-la. "Fui eu, Senhor".
Lembra dos braços abertos e o sorriso convidativo? Ele fez de novo. O sorriso se abriu automaticamente no rosto dela também. Respirou fundo novamente. O ar que entrou por suas narinas era um vento de uma paz inexplicável.
"Sua fé te curou", isso foi tudo o que ele disse. Depois ela deve ter o abraçado, chorando e agradecendo, e sentiu aquela mesma paz que podia fazê-la voar. Mas o que aconteceu depois e depois também foi legal.
A multidão que olhava torto quando ela passava, que tinha nojo dela, sorria ao vê-la. E sua maior alegria talvez fosse poder cumprimentar a todos e ser reconhecida, até os dias de hoje como "a mulher que tocou as vestes do Mestre e foi curada".
A história não tem fim. Ela é minha, ela é sua. Basta um toque. Apenas um toque.